Ano passado fomos todos pegos de surpresa com o encerramento das atividades presenciais e o início do ensino remoto, em alguns lugares com pouco aviso prévio, em outros (UFBA <3) depois de um longo processo avaliando as possibilidades e planejando como seria o semestre da melhor forma possível. Foi um processo de se adaptar a novas condições, aprender novas tecnologias, muitas vezes mudar a forma de ensinar – e, obviamente, mudar a forma de aprender. Por vezes adquirir equipamentos e transformar uma residência em um espaço de trabalho que combina laboratório, sala de aula, escritório e estúdio de gravação em um lugar só. Foi um longo processo; atividades de formação sobre uso de tecnologias digitais e sobre a natureza do ensino remoto foram oferecidas; e, a meu ver, tem sido feito o melhor que podia ter sido feito e vi muita gente se desdobrando para se adaptar às novas condições e oferecer o melhor ensino possível. Mas independentemente disso, ensino remoto é difícil, é complicado, e falhas acontecem, porque não tem como falhas não acontecerem. Assim, acho essencial que busquemos formas de minimizar essas falhas e de tornar este ensino mais fácil e acessível para estudantes ao mesmo tempo mantendo uma carga de trabalho razoável para docentes, porque sobrecarga não é legal.
A minha impressão geral nestes tempos ministrando disciplinas remotamente é que o ensino remoto é mais difícil do que ensino presencial, para ambos os lados. A carga cognitiva olhando para uma telinha com slides e ouvindo alguém falar é mais pesada do que a carga cognitiva olhando e ouvindo um professor ou uma professora na sala de aula; na sala de aula existem gestos, os silêncios são menos estranhos, e o olhar não fica o tempo todo focado em uma única tela, passando entre o slides, a pessoa que está dando aula, e a paisagem lá fora (nos raros casos em que há janelas abertas) quando a mente e os olhos precisam de um descanso. Remotamente, isso tudo se perde, exceto talvez a possibilidade de olhar pela janela. As distrações também são maiores: em casa, há as distrações constantes da vida cotidiana, a tentação de abrir o Whatsapp Web é mais forte do que a tentação de olhar furtivamente para o celular.
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