Este é o terceiro e último post escrito pelo Prof. Dr. Leonardo Resende, graduado em biologia pela Unip, Sorocaba (SP), mestre em ecologia pela UFSCar (SP) e doutor em ecologia pela ufba (BA), atuando, como pesquisador, nas áreas de ecologia evolutiva, etologia e sociobiologia. Eu convidei Leonardo a transformar partes da sua tese de doutorado em posts, e estou muito feliz que ele tenha aceitado o convite.
Quando falamos de personalidade animal, é comum a maioria das pessoas pensarem que estamos atribuindo a eles características humanas, pois para as pessoas em geral o termo personalidade se refere ao jeito de ser de uma pessoa, como por exemplo a timidez ou a agressividade, a preguiça ou a proatividade, enfim, qualquer adjetivo que se relacione com a maneira de agir de um indivíduo. Porém, isso é um engano, pois quando um pesquisador do comportamento animal se refere à personalidade de seu organismo de estudo, ele está se utilizando de um termo comum para designar um conceito bem diferente.
Então, do que afinal se trata a personalidade animal? Bem, desde o início do século XX, quando os estudos sobre o comportamento animal ainda estavam em seu início, os pesquisadores notavam e registravam a existência de individualidade no comportamento de seus objetos de estudo, ou seja, os indivíduos estudados se comportavam sistematicamente de forma distinta uns dos outros , por exemplo em estudos realizados por Hobhouse em 1915 e por Kinnaman em 1902. Porém, durante muito tempo tais registros anedóticos a respeito do comportamento dos animais foram tratados como anormalidades, erros de experimentação ou simplesmente negligenciados pela comunidade científica.
O primeiro estudo sistemático da personalidade animal, que de certa maneira criou as fundações para o programa de pesquisa que se configura atualmente, foi o desenvolvido por Ivan Pavlov durante a década de 1960 com seus cachorros condicionados. Isso se deve ao fato de ele ter desenvolvido um sistema de categorização do temperamento de seus cães adestrados, de acordo com o que ele acreditava na época serem derivados de suas qualidades neuronais.
Continuar lendo