Uma vida não-acadêmica dentro da Academia: técnica no INPA

Mais um post convidado! Renata Vilar, bióloga e mestra em Ecologia, conta da sua experiência trabalhando como técnica no INPA, em Manaus. Bem interessante o relato dela; e interessante inclusive para pensarmos como, ao lermos – ou até publicarmos – um artigo científico, muitas vezes nem pensamos no trabalho das pessoas que viabilizaram a coleta dos dados e, assim, a realização da pesquisa.

Em primeiro lugar, muito obrigada, Pavito, pelo espaço e pela iniciativa de discutir sobre esse tema!

Eu sou a Renata, moro em Manaus e estou trabalhando como bolsista de um projeto dentro do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), onde minha função, atualmente, é ajudar na parte de organização dos campos para coleta de dados. E eu também participo de coletivo independente (Coletivo Caxxyri) no bairro em que moro (próximo ao INPA e à UFAM – Universidade Federal do Amazonas), onde atuamos/queremos atuar com agricultura urbana, economia solidária e educação popular.

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Eu, a academia e a participação na revisão do plano diretor municipal

Hoje temos mais um post convidado! Desta vez Julia Assis*, da Unesp, conta sua experiência na revisão do Plano Diretor Municipal de Rio Claro, SP. Eu acompanhei bem de longe essa participação, e acho que é um ótimo e inspirador exemplo de como a Academia pode contribuir com a Sociedade.

Eu

Às vezes parece que está tão distante de nós a possibilidade de mudança… Nos revoltamos e nos inconformamos com como as coisas acontecem ao nosso redor. Sentimos a impotência nos paralizar diante de rotineiros absurdos que testemunhamos. Por muito tempo, adotei conscientemente a alienação como defesa. Sou uma pessoa bastante sensível e penso que cada um deve usar as armas que tem pra se defender daquilo que nos fere. O que tenho percebido, de uns tempos pra cá, é que o otimismo pode ser uma arma mais eficiente e que a mudança pode começar dentro da gente. Se nos concentrarmos e dispusermos de um pouco de tempo, com muita força de vontade e persistência, somos capazes de dar início à mudança. Pode até soar utópico ou idealista, mas eu vivi de fato essa experiência.

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A quem serve a sua ciência?

Esta semana, no workshop do laboratório onde sou pós-doc, foi dito algo interessante… A Universidade em que estamos está em uma região bem pobre do Brasil – e isso pensando em qualquer escala. A Bahia é um Estado pobre, a renda está concentrada mais na região metropolitana do que no sul da Bahia, e o bairro onde a UESC fica tem esgoto a céu aberto. Não seria obrigação da Universidade buscar formas de fazer algo a este respeito?

E isso se aplica a qualquer Universidade num país em desenvolvimento (e creio que nos ditos desenvolvidos também). Qual a função da Universidade, da Academia? Não é apenas produzir conhecimento pelo conhecimento – ciência básica é extremamente importante, progresso científico não é possível sem ela, mas não é só isso. E não é produzir conhecimento referente a problemas reais mas muito difícil de ser aplicado – senão fica um conhecimento teórico que não vai gerar frutos práticos. Claro que tudo isso é importante; mas é pra isso que somos pagos, simplesmente pra satisfazer a nossa curiosidade científica?

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Sobre ajuda e logística em campo

Trabalho de campo é uma parte importante de muitas pesquisas em ecologia; eu fiz campo na minha graduação, no meu mestrado e no meu doutorado, e ainda vou pra campo às vezes. E é supreendente como, sendo uma parte tão importante, recebemos tão pouco treinamento e instrução real para isso. Aprendemos a planejar um estudo, criar hipóteses, pensar num desenho amostral para isso; o uso das ferramentas recebe bem menos ênfase – sendo que se não usarmos as ferramentas direito*, introduzimos erros nas nossas medições; a logística e planejamento de campo costuma ser no modo “se vira”; segurança em campo então, praticamente nem se fala disso.

Pois vou falar um pouco disso então :-) Já falei de segurança em campo em outro post. Mas não custa, em primeiro lugar, reforçar algumas ideias:

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Ter uma vida faz bem pro Lattes!

A Academia costuma ser um ambiente bastante estressante (e você não precisa acreditar na minha palavra – veja, por exemplo, essa matéria publicada na Revista Fapesp). Eu pessoalmente não acho que isso seja uma característica exclusiva da Academia – amigos e amigas que trabalham em outras áreas, como consultoria ou tradução, não parecem significativamente mais felizes ou mais de boas. Também duvido que uma empresária ou um funcionário do Banco do Brasil viva uma vida sem estresses. Mas, a Academia é o ambiente que conheço e sobre isso que vou escrever.

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Luta de classes na Universidade

Este é mais um post discutindo aspectos da vida acadêmica com um ar meio revoltado… Acho que estou meio revolts ultimamente :-) E também estou lendo um livro de educação ambiental que me faz indagar sobre algumas coisas.

Não sou sociólogo, não tenho formação em ciências sociais, minhas leituras nissos são extremamente limitadas, e só tive mesmo contato com ciências humanas quando estudava educação ambiental. Ou seja, a probabilidade de eu não fazer a menor idéia sobre o que estou falando é grande. :-) E também sinto que não consegui me expressar aqui, e nem formular direito as minhas opiniões. Mas só percebi isso depois do texto estar escrito, então bora lá!

Quando falamos em “luta de classes”… O que vem à sua mente? Obviamente, um paladino e um mago lutando contra um ranger e um clérigo enquanto um bardo compões canções sobre isso. Imagino que vem à mente a clássica questão do proletariado – detentor da mão de obra – e dos donos dos meios de produção… Acertei?

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Independência de pensamento

Existem outros textos excelentes sobre o que é ser cientista, que características cientistas precisam ter e questionando você, leitor ou leitora, se você de fato quer seguir o Caminho da Ciência. Abaixo cito alguns:

(Já falei que sou fã do Marco Mello?) Outras pessoas escreveram sobre o assunto, mas estes acima são os textos com que mais me identifico.

E considerando a simples importância deste tema e o quanto já foi dito sobre ele, eu devia parar de chover no molhado e ir fazer alguma coisa mais útil da minha vida tipo preparar a minha aula nada mais sensato do que eu também dar meus pitacos aqui, né? :-)

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A quem pertencem os dados?

Visualizemos uma pesquisa de doutorado, ou de mestrado, ou de iniciação científica.
Independentemente do tema, da área de estudo, de qualquer coisa, esta pesquisa vai consistir de algumas partes:

  • Idealização da pesquisa ou ideia geral;
  • Planejamento ou desenho amostral ou experimental;
  • Coleta de dados;
  • Análise e interpretação os dados coletados;
  • Escrita de um trabalho científico.

Esta pesquisa também terá, via de regra, o envolvimento de duas ou mais pessoas:

  • Orientador/a;
  • Discente (seja de graduação, mestrado ou doutorado);
  • Colegas de laboratório;
  • Outros docentes que colaborem ensinando, fornecendo equipamentos ou avaliando criticamente o desenho amostral;
  • Mateiros, consultores estatísticos etc.

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